Antes e depois da sessão de cinema
Converse com as crianças contando a elas que verão um curta (um filme de poucos minutos), cujo cenário representa antigas fazendas do interior do Brasil. Peça para que elas observem bem como homens e mulheres são representados no filme: como vivem, como é a casa e o lugar em que vivem e trabalham, que tipo de atividade aparecem fazendo, que animais aparecem, como eles vivem.
Forneça alguns dados biográficos sobre o diretor desse curta e informe a elas que Mauro fez o curta que irão assistir visando o público infantil, brincando com a canção A velha a fiar, produzindo imagens para ilustrar essa canção popular.
Depois de assistir ao filme, pergunte a elas o que mais lhes chamou a atenção. Pergunte-lhes que objetos ou instrumentos elas observaram no curta e se são comuns o uso desses objetos nas casas das cidades atuais (roda de fiar, tanque de bater roupa, forno a lenha, pilão, moinho d'água, além do carro de boi). Como as pessoas que aparecem no filme se vestem, elas têm algum hábito? Que diferenças elas podem apontar entre o cenário do filme e o lugar onde vivem (diferenças entre os ambientes rural e urbano).
Explique a elas que os filmes, assim como os textos, as fotografias e outras representações simbólicas (desenhos, pintura, canções etc.) são sempre um recorte da realidade, uma determinada forma de mostrar o mundo real feito pelo autor da obra.
Neste sentido essas representações são sempre construções humanas, uma parcela da realidade e não a sua totalidade. Em A Velha a Fiar, por exemplo, não sabemos nada sobre os conflitos no campo, sobre a luta dos camponeses sem terra contra os latifundiários (em 1964, ano de produção de A Velha a fiar, as lideranças das Ligas Camponesas eram perseguidas pela ditadura militar que se instaurava).
Faça essa discussão estimulando as crianças a pensarem sobre o tema, propondo a elas algumas questões: de quem será essa fazenda representada no filme? Será que todo mundo tinha terra, gado? Ou será que tinha trabalhadores nas fazendas que não tinham terra pra plantar, nem gado e precisavam trabalhar na terra de outros? Nessa sociedade o lugar reservado às mulheres era o espaço doméstico, mas será que as mulheres pobres poderiam ficar em suas casas, cuidando dos seus filhos e maridos? E hoje, nas cidades, as mulheres pobres podem (se desejarem) ficar em suas casas cuidando de seus filhos e maridos?
A discussão sobre o curta também auxilia as crianças a refletirem sobre mudanças e permanências de modos de vida, costumes, hábitos, ritmos de tempo, os papéis sociais dos gêneros etc.
Reserve tempo para discutir com as crianças algumas comparações possíveis entre as representações do meio rural em A velha a fiar com a nossa sociedade que viveu nos últimos 50 anos uma intensa urbanização com concentração populacional e crescimento desordenado dos grandes centros. Que semelhanças e diferenças podem ser observadas entre esse mundo rural representado no curta e a nossa sociedade atual? Destaque, por exemplo, a roda de fiar. Informe às crianças que esse objeto (que no curta é movido pelo ator que interpreta a 'velha') é um instrumento muito antigo, inventado na Índia há cerca de 2500 anos e era usado nas fábricas artesanais para fazer tecidos até cerca de 200 anos atrás. Hoje, as rodas de fiar ainda podem ser encontradas em comunidades de artesãos que fazem, por exemplo, tapetes de fio de algodão.
Brincando e aprendendo com a cultura popular: Parlendas, cantigas de roda, trava-línguas
A velha a fiar, especialmente em seu final, quando o ritmo da parlenda se intensifica, tem uma linguagem cinematográfica muito moderna para a época: seus cortes rápidos lembram-nos a narrativa contemporânea dos videoclipes.
O mote da estrutura da narrativa de A velha a fiar é a canção popular do mesmo nome com jogos verbais, ritmados e rápidos. Conhecidas no Brasil como parlendas (do verbo parlar/falar), essas formas literárias com ou sem rimas, herdadas da cultura oral e presentes em muitas culturas como a italiana, a judaica e a portuguesa são declamadas e têm como base a acentuação verbal. Seu principal motivo é o ritmo e o jogo verbal constitui-se de uma série de imagens que se associam obedecendo a ludicidade:
Um, dois,feijão com arroz.
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, chegou minha vez
Sete, oito, comer biscoito
Nove, dez, comer pastéis.
As parlendas podem ter uso didático como fixar números, dias da semana, cores, partes do corpo ou idéias primárias.
Seu mindinho
seu vizinho
pai de todos
fura bolo
mata piolhos.
Os trava-línguas também são manifestações orais da cultura popular e costumam ser desafios divertidos para as crianças que buscam repetir as frases, buscando controlar o ritmo para acertar a pronúncia sem 'travar a língua':
"Luzia lustrava o lustre listrado, o lustre listrado luzia."
"Três pratos de trigo para três tigres tristes."
Esses e outros gêneros da literatura popular permitem uma dinâmica coletiva, lúdica e que despertam prazer nas crianças, contribuindo para mantermos vivas diferentes expressões da cultura oral.
Oficina de parlendas, trava-línguas, advinhas e cantigas de roda
Ao recitar parlendas para as crianças os adultos (pais, avós, professores) divertem-nas, estimulam a memória, ampliam os vínculos.
Para encerrar essa atividade pedagógica, que tal fazer uma oficina de parlendas, trava-línguas, advinhas e cantigas de roda?
A seguir sugerimos algumas parlendas e trava-línguas. Você pode pesquisar com as crianças mais exemplos, além de incentivá-las a conversar com os pais e avós para aprender outras manifestações orais da cultura popular.
Ao final da pesquisa, reserve um dia para um desafio de parlendas e trava-línguas, para ouvir e cantar cantigas de roda. Faça a atividade de preferência em um espaço aberto da escola.